Publicado em: 25/01/2023 09:41:00
Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Na quarta-feira passada refletimos sobre Jesus, modelo do anúncio, sobre o seu coração pastoral, sempre propenso para os outros. Hoje olhemos para Ele como mestre do anúncio. Deixemo-nos orientar pelo episódio em que Ele prega na sinagoga do seu povoado, Nazaré. Jesus lê um trecho do profeta Isaías (cf. 61, 1-2) e depois surpreende todos com um “sermão” muito breve, de uma única frase, uma só frase. Diz assim: «Hoje cumpriu-se este oráculo, que acabais de ouvir» (Lc 4, 21). Esta foi a pregação de Jesus: «Hoje cumpriu-se este oráculo, que acabais de ouvir». Isto significa que para Jesus essa passagem profética contém o essencial daquilo que Ele quer dizer de si. Por conseguinte, cada vez que falamos de Jesus, deveríamos seguir aquele seu primeiro anúncio. Então, vejamos em que consiste este primeiro anúncio. Podemos identificar cinco elementos essenciais.
O primeiro elemento é a alegria. Jesus proclama: «O Espírito do Senhor está sobre mim; [...] enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres» (v. 18), isto é, um anúncio de júbilo, de alegria. Boa nova: não se pode falar de Jesus sem alegria, porque a fé é uma maravilhosa história de amor a partilhar. Testemunhar Jesus, fazer algo pelos outros em seu nome, é dizer nas entrelinhas da vida que se recebeu um dom tão bonito que nenhuma palavra é suficiente para o expressar. Ao contrário, quando falta alegria, o Evangelho não passa, pois ele – como a própria palavra o diz - é bom anúncio, e Evangelho quer dizer bom anúncio, anúncio de alegria. O cristão triste pode falar de coisas maravilhosas, mas será tudo em vão se o anúncio que transmite não for jubiloso. Dizia um pensador: “um cristão triste é um triste cristão”: não esqueçais isto.
Passemos para o segundo aspeto: a libertação. Jesus diz que foi enviado «para anunciar a libertação aos cativos» (v. 19). Isto significa que quem anuncia Deus não pode fazer proselitismo, não, não pode pressionar os outros, mas deve aliviá-los: não impor fardos, mas livrar deles; levar paz, não sentimentos de culpa. Sem dúvida, seguir Jesus exige ascese, exige sacrifícios; de resto, se cada coisa boa o requer, muito mais o exige a realidade decisiva da vida! Mas quem dá testemunho de Cristo mostra a beleza da meta, mais do que o cansaço do caminho. Ter-nos-á ocorrido contar a alguém sobre uma bela viagem que fizemos. Por exemplo, teríamos falado da beleza dos lugares, do que vimos e vivemos, não do tempo para lá chegar, nem das filas no aeroporto, não! Assim, qualquer anúncio digno do Redentor deve comunicar libertação. Como aquele de Jesus. Hoje há alegria pois vim libertar.
Terceiro aspeto: a luz. Jesus diz que veio para restituir «aos cegos o recobrar da vista» (ibid.). É impressionante que em toda a Bíblia, antes de Cristo, nunca aparece a cura de um cego, nunca. Com efeito, era um sinal prometido que viria com o Messias. Contudo, aqui não se trata apenas da vista física, mas de uma luz que faz ver a vida de modo novo. Há um “vir à luz”, um renascimento que só se verifica com Jesus. Pensando bem, foi assim que a vida cristã teve início para nós: com o Batismo, que antigamente se chamava precisamente “iluminação”. E que luz nos dá Jesus? Traz-nos a luz da filiação: Ele é o Filho amado do Pai, vivo para sempre; e com Ele, também nós somos filhos de Deus, amados para sempre, não obstante os nossos erros e defeitos. Então, a vida já não é um avançar cego rumo ao nada, não: não é questão de destino ou sorte, não é algo que depende do acaso ou das estrelas, nem sequer da saúde ou das finanças, não. A vida depende do amor, do amor do Pai, que cuida de nós, seus filhos amados. Como é maravilhoso partilhar esta luz com os outros! Já pensastes que a vida de cada um de nós – a minha vida, a tua vida, a nossa vida – é um gesto de amor? É um convite ao amor? Isto é maravilhoso! Mas muitas vezes esquecemos isto, face às dificuldades, diante das más notícias, também diante – e isto é terrível – da mundanidade, do modo de viver mundano.
Quarto aspeto do anúncio: a cura. Jesus diz que veio «para libertar os oprimidos» (ibid.). Oprimido é aquele que, na vida, se sente esmagado por algo que acontece: doenças, canseiras, pesos no coração, sentimentos de culpa, erros, vícios, pecados... Oprimidos por isto: pensemos por exemplo nos sentimentos de culpa. Quantos de nós sofreram com isto? Pensemos um pouco num sentimento de culpa deste, daquele… O que nos oprime é, acima de tudo, precisamente aquele mal que nenhum medicamento ou remédio humano pode curar: o pecado. E se alguém tem sentimento de culpa por algo que fez, e se sente mal... mas a boa notícia é que com Jesus este mal antigo, o pecado, que parece invencível, já não tem a última palavra. Posso pecar, pois sou débil. Cada um de nós o pode fazer, mas esta não é a última palavra. A última palavra é a mão estendida de Jesus que te ergue do pecado. E padre, quando o faz? Uma vez? Não. Duas? Não. Três? Não. Sempre. Cada vez que estás mal, o Senhor tem sempre a mão estendida. É preciso apenas pegar nela e deixar-se levar. A boa notícia é que com Jesus este mal antigo não tem a última palavra: a última palavra é a mão estendida de Jesus que te leva em frente. Do pecado, Jesus cura-nos sempre. E quanto devo pagar pela cura? Nada. Cura-nos sempre e gratuitamente. Ele convida quantos estão «cansados e oprimidos» - disse-o no Evangelho – convida a ir até Ele (cf. Mt 11, 28). E então, acompanhar alguém ao encontro de Jesus significa levá-lo ao médico do coração, que alivia a vida. Significa dizer: “Irmão, irmã, não tenho respostas para muitos dos teus problemas, mas Jesus conhece-te, Jesus ama-te, pode curar-te e tranquilizar o coração”. Quem carrega fardos precisa de uma carícia no passado. Muitas vezes ouvimos: “Mas eu precisaria de curar o meu passado… preciso de uma carícia naquele passado que me pesa muito…”. Tem necessidade de perdão. E quem acredita em Jesus tem precisamente isto para oferecer ao próximo: a força do perdão que liberta a alma de qualquer dívida. Irmãos, irmãs, não esqueçais: Deus esquece tudo. Porquê? Sim, esquece todos os nossos pecados, deles não há memória. Deus perdoa tudo pois esquece os nossos pecados. Só precisamos de nos aproximar do Senhor e Ele perdoa-nos tudo. Pensai em algo do Evangelho, naquele que começou a falar: “Senhor, pequei!”. Aquele filho… E o pai fecha-lhe a boca com a mão. “Não, está bem, nada…” Não o deixa acabar… Isto é bonito. Jesus espera-nos para nos perdoar, para nos sarar. E quanto? Uma vez? Duas vezes? Não. Sempre. “Mas, padre, faço as mesmas coisas sempre...”. E também ele fará as suas mesmas coisas sempre: perdoa-te, abraça-te. Por favor, não duvidemos disto. É assim que se ama o Senhor. Quem carrega pesos e precisa de uma carícia no passado, precisa de perdão, saiba que Jesus o faz. E é isto que Jesus oferece: libertar a alma de cada dívida. Na Bíblia fala-se de um ano em que libertava do peso das dívidas: o Jubileu, o ano da graça. Como se fosse o último ponto do anúncio!
Com efeito, Jesus diz que veio «para proclamar o ano da graça do Senhor» (Lc 4, 19). Não era um jubileu programado, como aqueles que estamos a fazer agora, que tudo é programado e pensamos em como fazer, como não fazer… Não. Mas com Cristo a graça que renova a vida chega e surpreende sempre. Cristo é o Jubileu de cada dia, de cada hora, que se aproxima de ti, para te acariciar, para te perdoar. E o anúncio de Jesus deve trazer sempre o enlevo da graça. Este enlevo… “Não acredito, fui perdoado, fui perdoada”. Mas é tão grande o nosso Deus! Pois não somos nós que fazemos grandes coisas, mas é a graça do Senhor que, inclusive através de nós, realiza coisas imprevisíveis. E estas são as surpresas de Deus! Deus é um mestre das surpresas. Surpreende-nos sempre, espera-nos sempre. Nós chegamos, e Ele está à espera. Sempre. O Evangelho é acompanhado por um sentimento de maravilha e de novidade que tem um nome: Jesus!
Que Ele nos ajude a anunciá-lo como deseja, comunicando alegria, libertação, luz, cura e enlevo. É assim que se comunica Jesus.
Um último aspeto: este feliz anúncio, que recita o Evangelho, é dirigido «aos pobres» (v. 18). Muitas vezes esquecemo-nos deles, no entanto são os destinatários explicitamente mencionados porque são os prediletos de Deus. Lembremo-nos deles, e recordemos que, para receber o Senhor, cada um de nós deve fazer-se “pobre dentro”. Com aquela pobreza que faz dizer… “Senhor, preciso de perdão, preciso de ajuda, preciso de força”. A pobreza que todos temos: tornar-se pobre dentro. Trata-se de superar qualquer pretensão de autossuficiência para compreender que é necessitado de graça, e sempre necessitado d’Ele. Se alguém me disser: Padre, mas qual é a via mais breve para encontrar Jesus? Torna-te necessitado. Torna-te necessitado de graça, necessitado de perdão, necessitado e alegria. E Ele aproximar-se-á de ti.