Publicado em: 28/02/2023 14:45:00
Estimados irmãos e irmãs, bom dia e bem-vindos!
No nosso itinerário de catequeses sobre a paixão de evangelizar, hoje recomeçamos pelas palavras de Jesus que ouvimos: «Ide, pois, e fazei discípulos de todas as nações, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo» (Mt 28, 19). Ide, diz o Ressuscitado, não para doutrinar, nem para fazer prosélitos, não, mas para fazer discípulos, ou seja, para oferecer a cada um a possibilidade de entrar em contacto com Jesus, de o conhecer e de o amar livremente. Ide, batizando: batizar significa imergir e, portanto, antes de indicar uma ação litúrgica, exprime uma ação vital: imergir a própria vida no Pai, no Filho, no Espírito Santo; experimentar todos os dias a alegria da presença de Deus que está próximo de nós como Pai, como Irmão, como Espírito que age em nós, no nosso próprio espírito. Batizar significa imergir-se na Trindade.
Quando Jesus diz aos seus discípulos - e também a nós – “Ide!”, não comunica apenas uma palavra. Não! Comunica, ao mesmo tempo, o Espírito Santo, pois só graças a Ele, ao Espírito Santo, podemos receber a missão de Cristo e cumpri-la (cf. Jo 20, 21-22). Com efeito, os Apóstolos permanecem fechados no Cenáculo, com medo, enquanto não chega o dia de Pentecostes e desce sobre eles o Espírito Santo (cf. At 2, 1-13). E naquele momento desaparece o temor e com a sua força aqueles pescadores, na sua maioria iletrados, mudarão o mundo. “Mas se não soubem falar...”. Mas é a palavra do Espírito, a força do Espírito que os leva em frente para mudar o mundo. Portanto, o anúncio do Evangelho só se realiza na força do Espírito, que precede os missionários e prepara o coração: Ele é “o motor da evangelização”.
Descobrimo-lo nos Atos dos Apóstolos, onde em cada página vemos que o protagonista do anúncio não é Pedro, Paulo, Estêvão ou Filipe, mas o Espírito Santo. Ainda nos Atos, narra-se um momento nevrálgico dos primórdios da Igreja, que também nos pode dizer muito. Nessa época, como hoje, com as consolações não faltavam tribulações - momentos bons e momentos menos bons – as alegrias eram acompanhadas por preocupações, ambas as coisas. Uma em particular: como se comportar com os pagãos que chegavam à fé, com quantos não pertenciam ao povo hebreu, por exemplo. Eram ou não obrigados a observar as prescrições da Lei mosaica? Não se tratava de uma questão de pouca importância para aquele povo. Assim, formam-se dois grupos, entre aqueles que consideravam a observância da Lei indispensável e quem não. Para discernir, os Apóstolos reúnem-se no que se chama o “Concílio de Jerusalém”, o primeiro da história. Como resolver o dilema? Ter-se-ia podido procurar um bom compromisso entre tradição e inovação: algumas normas observam-se, outras deixam-se de lado. Contudo, os Apóstolos não seguem esta sabedoria humana para procurar um equilíbrio diplomático entre uma e outra, não seguem isto, mas adaptam-se à obra do Espírito, que os tinha antecipado, descendo sobre os pagãos como sobre eles.
Portanto, eliminando quase todas as obrigações ligadas à Lei, comunicam as decisões finais, tomadas – e escrevem assim - «pelo Espírito Santo e por nós» (cf. At 15, 28) saiu esta, o Espírito Santo connosco, assim agem sempre os Apóstolos. Juntos, sem se dividir, não obstante as diferentes sensibilidades e opiniões, põem-se à escuta do Espírito. E Ele ensina algo, válido até hoje: cada tradição religiosa é útil, se facilitar o encontro com Jesus, cada tradição religiosa é útil se agilizar o encontro com Jesus. Poderíamos dizer que a decisão histórica do primeiro Concílio, do qual também nós nos beneficiamos, foi movida por um princípio, o princípio do anúncio: tudo na Igreja deve conformar-se com as exigências do anúncio do Evangelho; não com as opiniões dos conservadores ou dos progressistas, mas com o facto de que Jesus alcance a vida das pessoas. Por conseguinte, cada escolha, cada uso, cada estrutura e cada tradição devem ser avaliados na medida em que favorecerem o anúncio de Cristo. Quando se encontram decisões na Igreja, por exemplo, divisões ideológicas: “Sou conservador porque... sou progressista porque...”. Mas onde está o Espírito Santo? Estai atentos que o Evangelho não é uma ideia, o Evangelho não é uma ideologia: o Evangelho é um anúncio que toca o coração e te faz mudar o coração, mas se tu te refugiares numa ideia, numa ideologia quer de direita quer de esquerda quer de centro, estás a fazer do Evangelho um partido político, uma ideologia, um clube de pessoas. O Evangelho oferece-te sempre esta liberdade do Espírito que age em ti e te leva em frente. E quanto é necessário hoje pegar pela mão a liberdade do Evangelho e deixar-nos levar em frente pelo Espírito.
Assim, o Espírito ilumina o caminho da Igreja, sempre. Com efeito, Ele não é apenas a luz do coração, é a luz que orienta a Igreja: ilumina, ajuda a distinguir, ajuda a discernir. Por isso, é necessário invocá-lo frequentemente; façamo-lo também hoje, no início da Quaresma. Pois, como Igreja, podemos ter tempos e espaços bem definidos, comunidades, institutos e movimentos bem organizados, mas sem o Espírito, tudo permanece sem alma. A organização não é suficiente: é o Espírito que dá vida à Igreja. Se não rezar a Ele e não o invocar, a Igreja fecha-se em si mesma, em debates estéreis e extenuantes, em polarizações desgastantes, enquanto a chama da missão se extingue. É muito triste ver a Igreja como se fosse um parlamento; não, a Igreja é outra coisa. A Igreja é a comunidade de homens e mulheres que acreditam e anunciam Jesus Cristo mas movidos pelo Espírito Santo, não pelas próprias razões. Sim, usa-se a razão mas vem o Espírito que a ilumina e move. O Espírito faz-nos sair, impele-nos a anunciar a fé, impele-nos para nos confirmarmos na fé, a ir em missão para reencontrarmos quem somos. Por isso, o Apóstolo Paulo recomenda assim: «Não extingais o Espírito!» (1 Ts 5, 19), não extingais o Espírito. Oremos com frequência ao Espírito, invoquemo-lo, peçamos-lhe todos os dias que acenda em nós a sua luz. Façamo-lo antes de cada encontro, para nos tornarmos apóstolos de Jesus com as pessoas que encontrarmos. Não extingais o Espírito nas comunidades cristãs nem dentro de cada um de nós.
Caros irmãos e irmãs, como Igreja comecemos e recomecemos do Espírito Santo. «Sem dúvida, é importante que nas nossas programações pastorais comecemos a partir das sondagens sociológicas, das análises, da lista de dificuldades, do elenco de expetativas e queixas. No entanto, é muito mais importante começar a partir das experiências do Espírito: eis o verdadeiro início. Portanto, é necessário procurá-las, enumerá-las, estudá-las, interpretá-las. Trata-se de um princípio fundamental que, na vida espiritual, é chamado primado da consolação sobre a desolação. Primeiro há o Espírito que consola, reanima, ilumina, se move; depois, haverá também a desolação, o sofrimento, a escuridão, mas o princípio para se regular na obscuridade é a luz do Espírito» (C.M. MARTINI, Evangelizzare nella consolazione dello Spirito, 25 de setembro de 1997). Este é o princípio para se regular nas coisas que não se compreendem, nas confusões, inclusive nas muitas escuridões, é importante. Procuremos interrogar-nos se nos abrimos a esta luz, se lhe damos espaço: invoco o Espírito? Cada um responda no próprio íntimo. Quantos de nós rezamos ao Espírito? “Não, padre, rezo a Nossa Senhora, rezo aos Santos, rezo a Jesus, mas às vezes, rezo o Pai-Nosso, rezo ao Pai” – “E ao Espírito? Tu não rezas ao Espírito, que é aquele que te faz mover o coração, que te leva em frente, te leva à consolação, leva em frente a tua vontade de evangelizar e de fazer missão?”. Deixo-vos esta pergunta: Rezo ao Espírito Santo? Deixo-me orientar por Ele, que me convida a não me fechar, mas a levar Jesus, a dar testemunho do primado da consolação de Deus sobre a desolação do mundo? Nossa Senhora que compreendeu este bem nos faça entender isto.