Publicado em: 26/09/2023 17:19:00
Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Na segunda-feira regressei da Mongólia. Gostaria de manifestar gratidão a quantos acompanharam a minha visita com a oração, e de renovar o meu agradecimento às Autoridades que me receberam solenemente: em particular ao Presidente Khürelsükh e também ao ex-Presidente Enkhbayar, que me tinha feito o convite oficial para visitar o país. Volto a pensar com alegria na Igreja local e no povo mongol: um povo nobre e sábio, que me demonstrou muita cordialidade e afeto. Hoje gostaria de vos levar ao coração desta viagem.
Poder-se-ia perguntar: por que o Papa vai tão longe para visitar um pequeno rebanho de fiéis? Porque é precisamente ali, distante dos holofotes, que muitas vezes se encontram os sinais da presença de Deus, que não olha para as aparências, mas para o coração, como ouvimos no trecho do profeta Samuel (cf. 1 Sm 16, 7). O Senhor não procura o centro do palco, mas o coração simples de quem o deseja e o ama sem aparecer, sem querer sobressair em relação dos outros. E tive a graça de encontrar na Mongólia uma Igreja humilde mas feliz, que está no coração de Deus, e posso dar-vos o testemunho da sua alegria por se encontrar durante alguns dias também no centro da Igreja.
Aquela comunidade tem uma história comovedora. Nasceu, pela graça de Deus, do zelo apostólico - sobre o qual refletimos neste período - de alguns missionários que, apaixonados pelo Evangelho, há cerca de trinta anos partiram para aquele país que não conheciam. Aprenderam a sua língua – que não é fácil – e, embora viessem de diferentes nações, deram vida a uma comunidade unida e verdadeiramente católica. Com efeito, este é o sentido da palavra “católico”, que significa “universal”. Contudo, não se trata de uma universalidade que homologa, mas de uma universalidade que se incultura, uma universalidade que se incultura. Eis no que consiste a catolicidade: uma universalidade encarnada, “inculturada”, que capta o bem onde vive e serve o povo com quem vive. É assim que a Igreja vive: dando testemunho do amor de Jesus com mansidão, com a vida antes do que com as palavras, feliz com as suas verdadeiras riquezas: o serviço ao Senhor e aos irmãos!
Foi assim que nasceu aquela jovem Igreja: no sulco da caridade, que é o melhor testemunho da fé. Na conclusão da minha visita, tive a alegria de benzer e inaugurar a “Casa da misericórdia”, primeira obra de caridade criada na Mongólia como expressão de todos os membros da Igreja local. Uma casa que é o cartão de visita daqueles cristãos, mas que também chama cada uma das nossas comunidades a ser casa da misericórdia: isto é, lugar aberto, lugar hospitaleiro, onde as misérias de cada um possam entrar sem vergonha em contacto com a misericórdia de Deus que levanta e cura. Eis o testemunho da Igreja na Mongólia, com missionários de vários países que se sentem um só com o povo, felizes por o servir e descobrir as belezas que ele já tem. Pois estes missionários não foram para lá fazer proselitismo, isso não é evangélico, foram para lá a fim de viver como o povo mongol, para falar a sua língua, o idioma daquele povo, para assimilar os valores daquele povo e pregar o Evangelho em estilo mongol, com palavras mongóis. Partiram e “inculturaram-se”: assimilaram a cultura mongol para anunciar o Evangelho naquela cultura.
Pude descobrir um pouco desta beleza, conhecendo inclusive algumas pessoas, ouvindo as suas histórias, apreciando a sua busca religiosa. Neste sentido, estou grato pelo encontro inter-religioso e ecuménico no domingo passado. A Mongólia tem uma grande tradição budista, com muitas pessoas que, em silêncio, vivem a sua religiosidade de maneira sincera e radical, através do altruísmo e da luta contra as próprias paixões. Pensemos em quantas sementes de bem, no escondimento, fazem germinar o jardim do mundo, enquanto normalmente só ouvimos falar do barulho das árvores que caem! E o povo, até nós, gosta do escândalo: “Mas olha que barbaridade, caiu uma árvore, o barulho que fez!” – “Mas não vês a floresta que cresce todos os dias?”, pois o crescimento é silencioso. É decisivo saber vislumbrar e discernir o bem. Ao contrário, muitas vezes só apreciamos os outros na medida em que eles correspondem às nossas ideias, mas devemos ver aquele bem. E por isso é importante, como faz o povo mongol, dirigir o olhar para o alto, para a luz do bem. É só deste modo, a partir do reconhecimento do bem, que se constrói o porvir comum; somente valorizando o outro o ajudamos a melhorar.
Estive no coração da Ásia e foi bom para mim. Faz bem entrar em diálogo com aquele grande continente, captar as suas mensagens, conhecer a sua sabedoria, o seu modo de ver a realidade, de abraçar o tempo e o espaço. Fez-me bem encontrar o povo mongol, que preserva as raízes e tradições, respeita os idosos e vive em harmonia com o meio ambiente: é um povo que perscruta o céu e sente o sopro da criação. Pensando nas extensões ilimitadas e silenciosas da Mongólia, deixemo-nos estimular pela necessidade de ampliar os confins do nosso olhar, por favor: alargar os confins, olhar ao largo e para o alto, olhar e não se deixar aprisionar pela pequenez, ampliar os limites do nosso olhar, para que veja o bem que existe nos outros e seja capaz de dilatar os próprios horizontes e também alargar o próprio coração para compreender, para estar próximo de cada pessoa e de cada civilização.