Publicado em: 07/09/2023 23:21:00
O Grito dos Excluídos e Excluídas, realizado desde 1995 em todo o país no dia 7 de setembro, reuniu cerca de 500 pessoas em de Congonhas (MG), nesta quinta-feira, 7, Dia da Pátria. Organizado pela Dimensão Sociopolítica da Arquidiocese de Mariana, o Grito fez eco ao tema da Campanha da Fraternidade com a pergunta “Você tem fome e sede de quê?”.
Concentrados em frente à igreja Nossa Senhora da Conceição, na Praça Sete de Setembro, os manifestantes vindos das cinco regiões pastorais da Arquidiocese de Mariana gritavam palavras de ordem contra os sistemas político e econômico que causam a fome e a exclusão no país.
“Gritamos contra o sistema que exclui, degrada e mata; contra este sistema que concentra riqueza e renda nas mãos de uns poucos e impõe a miséria a milhões”, disse o coordenador da Dimensão Sociopolítica (DSP) da Arquidiocese de Mariana, padre Marcelo Moreira Santiago.
Padre Marcelo destacou que a população tem sede e fome “de garantida de direitos básicos”, além de inclusão social e econômica. “Temos fome e sede de combate e erradicação da fome, de acesso à terra, teto e trabalho, no campo e na cidade; de políticas públicas; de democracia e soberania popular; de combate à desigualdade social, ao machismo, ao racismo”, disse.
Para o coordenador da DSP, as mudanças desejadas pelo Grito só ocorrerão com a participação popular que acontece com a união das forças vivas da sociedade como grupos religiosos, instituições, movimentos populares e partidos políticos.
Manifestação dos movimentos e lideranças
Várias lideranças usaram a palavra para manifestar seu repúdio a situações de exclusão no país. A Pastoral Afro-brasileira, por exemplo, denunciou o patriarcado e o machismo. “O patriarcado está nas estruturas públicas, privadas e até nos nossos lares. No patriarcado vemos as formas de machismo e racismo que estão sendo incutidas e desenvolvidas em pessoas que estão próximas de nós”, disse bacharel em direito e membro da Pastoral Afro-brasileira, Hellen Margarida Silva. “Não podemos compactuar de forma nenhuma com o patriarcado, com o machismo, nem com o racismo", acrescentou.
O pároco da paróquia Nossa Senhora Mãe da Igreja, em Congonhas, padre Geraldo Barbosa, fez memória de Dom Luciano Mendes de Almeida, arcebispo de Mariana e grande incentivador do Grito, falecido em 2006. Padre Geraldo leu um artigo de Dom Luciano publicado, em 2005, no jornal Folha de S. Paulo sobre o Grito dos Excluídos.
Pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Fernando Cordeiro criticou a CSN e a mineração “que detém 40% do território [do município de Congonhas]”. Já o sindicalista Edilson Pereira lembrou a luta do Sindicato Metabase, de Congonhas, para impedir que as empresas estabeleçam jornada de doze horas de trabalho, além de defender as comunidades “contra o avanço ganancioso das mineradoras”. Segundo explicou, tem aumentado o grau de exploração dos trabalhadores da mineração. “Esse grau de exploração acontece quando se colocam jornadas de trabalho extensas e [quando] os trabalhadores [são] expostos a condições ruins e em ambientes não favoráveis”, sublinhou.
O deputado federal Padre João Carlos (PT) e o deputado estadual Leleco Pimentel (PT) também destacaram a desigualdade social como uma das causas da fome no país e defenderam a participação popular para transformar a realidade.
Caminhada e missa
Com faixas, cartazes e muito barulho, os manifestantes do Grito desceram a ladeira da igreja Nossa Senhora da Conceição rumo à colina da Basílica Bom Jesus, misturando-se com a população que participava das comemorações cívicas do Dia da Pátria e também com os romeiros e romeiras que lotaram a cidade para o jubileu do Bom Jesus, aproveitando o feriado.
Diante da Basílica, sob a sombra de uma extensa tenda, os participantes do Grito participaram da missa presidida pelo arcebispo de Mariana, Dom Airton José dos Santos, e concelebrada por dez padres, além de outros que ficaram na assembleia.
Durante o ato penitencial, o comentarista listou alguns pecados sociais dos quais se deve pedir perdão como o descaso e o preconceito com os indígenas e com as pessoas em situação de rua, a falta de água potável, a fome de milhões de pessoas.
O arcebispo disse que manifestações como a do Grito só têm sentido se forem por causa de Jesus Cristo. “Por que organizamos as coisas na vida, no trabalho? Fazemos passeata e reivindicações. Por que fazemos isso? Se não for por causa de Cristo, perdemos tempo”, observou.
Dom Airton destacou, ainda a importância da missa como mistério da fé. “Jesus não faz parte da mesa, porque ele é a mesa. Ele é o cordeiro, a vítima do sacrifico, o altar e o cordeiro”, explicou.
O arcebispo fez referência também ao tema do Grito dos Excluídos que lembra a Campanha da Fraternidade deste ano. “A Campanha da Fraternidade e este Grito dos Excluídos nos falam sobre o alimento que dá vida. Sabemos que o alimento para nossa vida de fé é Jesus Cristo”, disse. Ele condenou o desperdício de comida no país. “O Brasil é o país que tem o maior lixo do mundo, e o maior lixo é de comida”, afirmou. “Trabalhemos para que todos tenham acesso ao alimento e à água que são direito de todos nós”, concluiu.