Publicado em: 07/09/2021 20:17:00
Representantes das cinco regiões pastorais da Arquidiocese de Mariana participaram, na manhã desta terça-feira, 7, do 27º Grito dos Excluídos e Excluídas, em Congonhas (MG). Por causa da pandemia, não houve mobilização das pessoas e o ato foi transmitido pelas redes sociais da Arquidiocese de Mariana e da Basílica Bom Jesus.
O Grito terminou com a missa presidida pelo arcebispo de Mariana, Dom Airton José dos Santos, no Salão da Rádio Congonhas. Cerca de 60 pessoas participaram da celebração que começou às 10h e foi concelebrada por oito padres.
Dom Airton lembrou o compromisso de todos para com o Brasil. “Rezamos, hoje, pela nossa Pátria. Somos filhos desta terra e, portanto, responsáveis por ela. Dependendo daquilo que escolhermos fazer, vai ser bom ou ruim”, disse. Segundo o arcebispo, é preciso escolher os critérios para tomar decisão. “Para nós católicos, os critérios são bíblicos e vêm do ensinamento da Igreja”, explicou.
O arcebispo destacou também a necessidade de os cristãos terem uma fé “firme, brava, coerente” e não aceitarem que as coisas se resolvem “pelas contendas, pelas dissenções, pelas brigas”. “Temos de compreender que, como cristãos, devemos amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo a nós mesmos”, acrescentou.
O coordenador arquidiocesano de pastoral, padre Edmar José da Silva, recordou que o tema do Grito dos Excluídos está em sintonia com a prioridade pastoral da Arquidiocese que é “cuidar da vida ameaçada”.
“Cuida-se da vida ameaçada alimentando a indignação ética e denunciando a atual macroestrutura econômica, política e social que não tem a vida como princípio motriz, mas o lucro e o poder que geram morte e exclusão cada vez mais crescentes. Aí está a raiz de toda desigualdade, marginalização e exclusão e disso não temos dúvida!”, disse padre Edmar.
O coordenador disse, ainda, que outra forma de cuidar da vida ameaçada é “mobilizando criativamente ações concretas que podem minimizar o sofrimento” de quem está “sendo privados do básico para sobreviver: o alimento de cada dia, a moradia para se abrigar, o remédio para cuidar da saúde”.
Ato em favor da vida
O tema do Grito – Vida em primeiro lugar! Na luta por participação popular, comida, saúde, moradia, trabalho e renda já! – foi explorado pelas lideranças que representaram as pastorais sociais e os movimentos populares e sociais no ato realizado antes da missa em frente à Basílica Bom Jesus. O ato começou às 8h30 com transmissão ao vivo pelo canal youtube da Arquidiocese.
“Cuidar da vida é dever moral e ético do qual ninguém pode subtrair-se”, disse o coordenador arquidiocesano da Dimensão Sociopolítica e pároco da paróquia São João Batista, em Viçosa (MG), padre Geraldo Martins. "A tarefa do Estado no cuidado com a vida se sobrepõe à dos demais por caber a ele a construção do bem comum e da paz, base para que se respeite a vida”, completou.
Pe. Geraldo destacou a necessidade de cuidar também da vida do planeta. “É impossível cuidar da vida humana sacrificando a natureza”, disse. “Nossa esperança em meio à crise que vivemos vem de nossa fé em Cristo que venceu a morte e a cruz”, acrescentou.
Manifestação das lideranças
Sob os olhares atentos dos profetas no adro da Basílica, as lideranças denunciaram a falta de políticas públicas e a perda de direitos que ameaçam a vida dos excluídos. “Temos que suspender o pagamento da dívida pública, reduzir a jornada de trabalho, taxar as grandes empresas e estatizar os bancos e a mineração”, defendeu o líder do Sindicato Metabase de Congonhas, Rafael Duda. “Queremos um outro tipo de sociedade em que todos tenham direito ao emprego, à riqueza, à terra. E fazemos isso a partir da luta”, ressaltou.
Os representantes da Associação de Moradores dos Sem Casa (AMSCA), da cidade de Entre Rios (MG), José Geraldo e Sônia, destacaram o déficit de moradia no país e o aumento de pessoas em situação de rua na pandemia. “Mesmo na adversidade, é possível construir casas para as pessoas que realmente precisam delas”, disse José Geraldo. “Morar é um direito sagrado [que está sendo] negado a muitos. Há um enorme déficit habitacional no Brasil. A casa que nos abriga é um porto seguro”, sublinhou Sônia.
Pelo Movimento Fé e Política, Bruna Monalisa fez uma defesa enfática do Sistema Único de Saúde (SUS) e da vacina contra a Covid-19 para todos. “O SUS é uma conquista do povo brasileiro e não podemos permitir que ele caia. [Não podemos permitir] que as forças do mercado trabalhem para desmontar o SUS para privilegiar o sistema privado de saúde”, defendeu.
O preconceito e o racismo foram denunciados pela integrante da Pastoral Afro-brasileira, Nícia. Ela condenou a “cultura do ódio” presente no país, além da violência e da discriminação contra negros, indígenas, jovens e população LGBTQIA+. “Não podemos ficar indiferentes a essa realidade que atenta contra a vida de nosso povo. Queremos um país verdadeiramente independente, sem genocídio de nossa juventude negra e indígena. [Queremos um país] com justiça social e o povo voltando a sonhar e a ter orgulho de ser brasileiro”, observou.
Fátima Sabará destacou a presença do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) em Congonhas que sofre por causa da barragem da mineradora CSN. “Congonhas vive uma aflição. O povo [está] sofrendo com depressão e com a saúde debilitada, antes, por causa da barragem e, agora, com a pandemia”, disse. Já a coordenadora da Dimensão Sociopolítica, Silene Gonçalves, chamou a atenção para a violência contra a mulher. “A cada duas horas, uma mulher é assassinada no Brasil que é o quinto país que mais mata mulheres no mundo”, disse.
A volta do Brasil ao mapa da fome e o aumento dos que vivem a insegurança alimentar foram lembrados pelo deputado federal, Padre João Carlos. “São 20 milhões de brasileiros que passam fome por ausência de políticas públicas; 15 milhões de desempregados; 6 milhões de desalentados; 120 milhões que vivem em insegurança alimentar”, denunciou o parlamentar.