Publicado em: 28/11/2022 12:18:00
Os cinco eixos de trabalho e suas temáticas, estado do bem viver; terra, teto e trabalho; dignidade humana e direitos sociais; ecologia integral; economia de Francisco e Clara, foram debatidos e discutiram sobre as questões que envolvam a Igreja e a sociedade.
Durante o sábado, os participantes puderam discutir a construção de diversos movimentos e organizações populares e fazer uma reflexão conceitual sobre o conjunto de métodos, metodologias e práticas nas comunidades, além da superação de preconceitos e construção de círculo de paz.
Os participantes somavam um grupo de 260 pessoas que foi subdividido em 13 grupos de trabalhos e puderam aprofundar sobre os avanços e desafios presentes nas cinco regiões pastorais da Arquidiocese de Mariana, além da realidade social, eclesial e os anseios do povo brasileiro na busca por justiça e fraternidade, a Casa Comum e a luta pela regeneração da vida nas bacias do Rio Doce e do São Francisco/Paraopeba, a articulação das lutas de combate às desigualdades econômicas, sociais, racial e de gênero, a organização popular e a garantia das conquistas coletivas de direitos.
Dessa forma, os presentes também tiveram a oportunidade de partilhar suas vivências e promover debates a partir das relações com os temas: as Comunidades Eclesiais de Base (Ceb’s) e o trabalho de base, educação popular no campo e na cidade, economia popular solidária-cooperativismo e associativismo, organização dos movimentos populares e a organização dos catadores de material reciclável.
As sínteses e propostas dos eixos foram apresentadas em uma plenária geral, na Escola Municipal Abelard Pereira, para aprovação das prioridades que irão compor a Carta Compromisso do 8° Fórum Social pela Vida para o triênio 2022-2025. O documento final será lido e aprovado pelos participantes, neste domingo (27), e os compromissos da carta devem ser aplicados com a sociedade do bem viver da Arquidiocese de Mariana.
Texto: Leonardo Moura
CARTA COMPROMISSO DO 8º FÓRUM SOCIAL PELA VIDA
“Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça” (Mt 6,33)
Impulsionados por esse mandamento de Jesus, nós, os participantes do 8º Fórum Social pela Vida da Arquidiocese de Mariana, realizado em Carandaí-MG de 24 a 27 de novembro de 2022, formamos uma grande família marcada pela alegria, pela esperança e pela resistência, fruto da fé que nos irmana e da pluralidade que nos enriquece. Vindos de 50 municípios das cinco regiões pastorais de nossa Arquidiocese, somamos 260 pessoas cuja vida e testemunho traduzem o anseio de uma multidão que acredita, sonha e luta por uma sociedade justa e fraterna.
Nossas reflexões e debates, nesses dias, foram iluminados, além do Evangelho, pelas encíclicas Laudato Si e Fratelli Tutti, do Papa Francisco. Dessas duas fontes nasceram nosso tema e lema que, unidos, fazem nossa meta: “Lutar por justiça e construir fraternidade – a sociedade do bem viver em nossas mãos”. Os muitos desafios vencidos, sobretudo, o contexto de pandemia e de pós-eleição, fizeram deste nosso encontro o Fórum da resistência. Uma resistência ancorada e alicerçada no evangelho da vida e no compromisso com os direitos humanos e a Casa Comum.
A mística de abertura de nosso Fórum soprou as cinzas que escondiam a brasa do amor, da fé e da luta que ardia em nossos corações. Fomos desafiados, desde o início, a fazer do Fórum ocasião de ver a realidade com nossos próprios olhos, de ouvir o clamor do povo e o grito da Mãe Terra com nossos próprios ouvidos, de anunciar a esperança e denunciar o pecado e o mal com nossa própria boca.
Auxiliados por assessores e assessoras comprometidos com as causas de uma evangelização encarnada, compreendemos que a justiça nasce da resistência que tem, na memória, sua mais forte motivação. Entendemos, igualmente, que a fraternidade não é uma realidade pronta, mas uma forma de vida a ser escolhida e construída. Fomos alertados pelas palavras do Papa Francisco que diz: “no mundo atual, esmorecem os sentimentos de pertença à mesma humanidade e o sonho de construirmos juntos a justiça e a paz parece uma utopia de outros tempos” (FT, 30).
Vimos que a justiça e a fraternidade, base da sociedade do bem viver, supõem a promoção e a defesa da vida mediante o irrenunciável compromisso com a Ecologia Integral que nos faz perceber que não existe uma vida humana e outra da natureza, mas que tudo está interligado[1]. Para tanto, jamais poderemos abrir mão da democracia, necessária onde impera a injustiça, possível onde se busca a justiça[2].
O cenário socioeconômico e político, caracterizado pela desigualdade social, pobreza e exclusão, fome, violência, discriminação e preconceito, coronelismo político, corrupção, pelo capitalismo sem alma e por tantas outras realidades de dor e sofrimento que ameaçam a vida, especialmente dos pobres, longe de nos desanimar, enche-nos da coragem e da esperança que alimentam nossa utopia da sociedade do bem viver, prenúncio do Reino de Deus. Afinal, somos discípulos e discípulas Daquele que venceu a cruz e a morte! Ele nos garantiu: “Tenham confiança, eu venci o mundo” (Jo 16,33).
O 8º Fórum Social pela Vida foi, para todos nós, fonte restauradora que saciou nossa sede do reencontro, alimentou a chama de nossa esperança e fortaleceu nosso desejo de jamais abandonar a luta por justiça e fraternidade. Sentimos, durante todos esses dias, a companhia luminosa do “Nosso Dom Luciano, bom samaritano, doce e bom pastor” e reafirmamos que ele vive na luta do povo e no coração dos que ele amou e serviu. Nele buscamos a inspiração para, com espirito renovado e coração ardente, caminhar em direção à sociedade do bem viver que queremos construir, assumindo os seguintes compromissos:
1. Organizar o Movimento Fé e Política na Arquidiocese de Mariana, objetivando a formação e a capacitação dos cristãos leigos e leigas, em especial, mulheres, negros e negras e a juventude, com vistas à sua participação na Política Melhor[3] que constrói a sociedade do bem viver.
2. Elaborar uma cartilha sobre a agricultura urbana e a agricultura familiar com o objetivo de conscientizar as comunidades sobre a importância da alimentação saudável e o uso de sementes crioulas e de terapias naturais.
3. Atuar junto aos municípios com vistas ao fortalecimento ou à criação do Conselho Municipal de Habitação, acompanhando sua atuação na implementação de políticas públicas de moradia, especialmente, para a população pobre.
4. Fortalecer, nas pastorais e nos movimentos populares, o trabalho permanente de defesa e promoção da dignidade humana, contra todo tipo de discriminação e preconceito.
5. Criar, em nível arquidiocesano, a Comissão de Meio Ambiente e Ecologia Integral
6. Identificar, na Arquidiocese de Mariana, as iniciativas de economia solidária e de agroecologia, e, à luz da Economia de Francisco e Clara e da 6ª Semana Social Brasileira, incentivar sua prática.
Nossa Senhora da Assunção e São José, padroeiros de nossa Arquidiocese, intercedam por nós junto ao Deus Uno e Trino a fim de cumprirmos com alegria e fidelidade esses compromissos compartilhados com todos os irmãos e irmãs de nossa querida Arquidiocese de Mariana.
Carandaí, 27 de novembro de 2022.
[1] Papa Francisco. Laudato Si, nn. 91, 117, 138, 240
[2] Cf. Reinhold Niebuhr
[3] Papa Francisco. Fratelli Tutti, n. 154
Fonte: Dacom/Arquidiocese de Mariana
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