Publicado em: 19/07/2024 23:01:00
As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) de Minas Gerais reafirmaram, na manhã desta sexta-feira,19, seu compromisso nas lutas populares para conquista de terra, trabalho e teto. O tema foi desenvolvido pelo ex-assessor do Centro Nacional Fé e Política Dom Helder Camara (CEFEP), padre Paulo Adolfo e pela irmã Wirma Barian, durante o 9⁰ Encontro Mineiro das CEBs que começou na quinta-feira, 18, no Centro de Aprendizagem Pró-Menor (CAPP), na cidade de Passos (MG).
Padre Adolfo destacou a desigualdade social e econômica no país, indicando como causas da exclusão social o extrativismo predatório, a colonialidade, o racismo e o patriarcado. “ O extrativismo predatório é adotado tanto por governo de direita quanto de esquerda como solução econômica para os países em desenvolvimento”, criticou o assessor.
“A colonialidade é condição necessária para o capitalismo; o racismo é o antiprojeto da fraternidade universal e o patriarcado, antiprojeto de igualdade de gênero”, completou padre Adolfo.
Segundo o assessor, há três doenças da Igreja que dificultam sua luta pela transformação social: a dissociação entre indivíduo e comunidade, a dissociação entre fé e transformação social, o desânimo e a resignação.
Em linguagem poética e profética, a Irmã Wirma apresentou Maria como mulher que enfrenta o poder ao se tornar a mãe de Jesus, o salvador. Abordando o lema do encontro “derrubou do trono os poderosos e elevou os humilhados”, a irmã ressaltou o papel das CEBs na sociedade e o compromisso de quem delas participa.
“ As CEBs estão na raiz de vários movimentos populares e de luta. Sou uma liderança no campo social e político?”, questionou a religiosa. “ As CEBs são responsáveis pela formação de lideranças leigas na Igreja. Temos espaço para exercer nossa liderança na Igreja?”, acrescentou.
Irmã Wirma lembrou, ainda, a contribuição das CEBs na criação do novo método de ler a bíblia, de celebrar a fé e de rezar a realidade, bem como sua participação na restauração da ética na política e na cultura.
Metodologia das CEBs
O pastoralista, padre Manoel Godoy, abriu os trabalhos da tarde refletindo sobre o método ver, julgar, agir, adotado pelas Comunidades Eclesiais de Base. Ele mostrou a diferença entre o método dedutivo e indutivo, usado pela Igreja.
“O método das CEBs é indutivo, aquele que parte da realidade, vem de baixo para cima”, explicou. “O método dedutivo parte da doutrina”, completou.
Godoy defendeu a necessidade de a Igreja se servir da ciência para fazer a leitura da realidade. “É preciso olhar a realidade a partir da ciência e não só da religião. Usar, por exemplo, a antropologia e a sociologia”, disse.
Segundo explicou, o povo a quem o evangelho é pregado não pode ser tratado fora de sua realidade. "O evangelho se dirige a um povo concreto histórico. A pastoral se faz com um olho na realidade e o outro da bíblia”, sublinhou.
Caminhada dos mártires
O primeiro dia de trabalhos do 9⁰ Encontro Mineiro das CEBs terminou com uma caminhada em memória dos “Mártires da Caminhada”. Carregando estandartes com imagens de Oscar Romero, Margarida Alves, padre Josimo, Chico Mendes, padre Ernesto, dentre outros, os participantes do encontro percorreram as ruas do bairro, cantando e ouvindo falas referentes ao testemunho dos mártires da caminhada.
Pela manhã, o bispo de Guaxupé (MG), Dom José Lanza Neto, presidiu a missa que foi concelebrada pelo arcebispo de Uberaba e responsável pelas CEBs em Minas, Dom Paulo Mendes Peixoto, e pelo bispo de Teófilo Otoni, Dom Messias dos Reis Silveira, além de vários padres.
Matéria revisada em 20.7.24 às 8h50