Paroquial

Política Melhor é tema de encontro entre candidatos/as a vereadores/as e as paróquias de Viçosa

As quatro paróquias de Viçosa e a Capelania da UFV promoveram uma conversa com os candidatos e candidatas a vereadores e vereadoras da cidade de Viçosa, no dia 11 de setembro às 19 horas, no Viçosa Clube, para lhes apresentar o pensamento da Igreja no que se refere à política verdadeiramente preocupada com o bem comum.


Publicado em: 12/09/2024 11:06:00

Política Melhor é tema de encontro entre candidatos/as a vereadores/as e as paróquias de Viçosa

Esse foi o primeiro evento organizado pelas quatro paróquias de Viçosa e a Capela da UFV e teve por objetivo conversar e trocar ideias a respeito da política como vocação, como chamado à luta pelo bem comum.

Após acolhida aos/as candidatos/as, jovens da Escola de Cidadania Dom Luciano Mendes de Almeida, localizada entre o bairro União e São Sebastião, apresentaram um momento cultural com músicas que destacaram a importância do trabalho em conjunto para que mudanças sejam efetivadas na sociedade.

Em seguida padre Geraldo Martins, pároco da Paróquia de São João Batista agradeceu a presença de todos por terem aceitado o convite feito pelas paróquias e disse estar feliz com a presença de cada um, pois “a Igreja acredita e aposta em vocês para fazer a política melhor, como quer o Papa Francisco”, pontuou. 

Explicou que, em sua encíclica sobre a Amizade Social (“Fratelli tutti”), o Papa dedica todo o capítulo V à Política Melhor que ele define como “a política colocada a serviço do verdadeiro bem comum”. Segundo o Papa, ela é necessária para “tornar possível o desenvolvimento de uma comunidade mundial, capaz de realizar a fraternidade a partir de povos e nações que vivam a amizade social” (FT 154).

Citando o pensamento bíblico que defende que quem deseja ser o primeiro seja o que serve mais, parabenizou cada um dos candidatos e candidatas pela coragem de colocar o nome para ocupar uma posição tão importante e de tanta responsabilidade para a sociedade.

Padre Geraldo falou da importância da política na organização da sociedade, de forma a promover o bem comum, ou seja, só no bem comum, na luta pela dignidade da pessoa humana, a política encontra seu completo significado.

A partir dos documentos da Igreja, falou da política como forma primeira de promoção da justiça, caridade e liberdade. “Somos todos seres políticos e não há como fugir disso. Cada um de nós pratica a política de acordo com a vocação que lhe é própria”, defendeu.

A seguir, apresentou trechos de uma coluna do educador Rubem Alves, publicada na Folha de São Paulo, em maio de 2000, onde o autor defende que a política deve ser como a vocação de um jardineiro que cuida de um grande jardim para que todos possam se beneficiar dele. Ou seja, a política deve se preocupar com o bem de todos e não de apenas um grupo privilegiado.

Padre Geraldo refletiu sobre o desencantamento com a política sentido por grande parte da população brasileira e citou o Papa: “Poderá o mundo funcionar sem política? Poderá encontrar um caminho eficaz para a fraternidade universal e a paz social sem uma boa política?” (Fratelli tutti 176). Falou que o princípio basilar da política é a ética, o compromisso com outro, na arte de exercer o poder. Também citou Santo Agostinho que defende que a política não pode ser desprovida do amor que reconhece o outro como irmão ou irmã. 

Defendeu a política como uma grande forma de caridade e pediu que após eleitos/as, todos/as ajudem as pessoas de Viçosa a serem sujeitos da própria história, principalmente os excluídos e os que sofrem. Que tenham uma “ação correta de fiscalização e legislação que não passe por uma simples presença na bancada de sustentação ou de oposição ao executivo”, lembrados de que sua relação “é, antes, com a sociedade que com o poder constituído, no Executivo” (Doc. 91 da CNBB, n. 40). 

Lembrou também da Laudato si, Carta Encíclica do Papa Francisco sobre o cuidado com a casa comum, onde o pontífice destaca que a vida humana não é separada da vida da natureza e o homem não substitui Deus, mas é Seu importante colaborador na criação e no cuidado com ela.  

Ao final destacou a importância de candidatos e candidatas atuarem como irmãos e irmãs, sonhando e lutando juntos por uma sociedade justa e fraterna. “Lutemos para fazer de Viçosa um jardim para todos e todas”, concluiu.

O pároco da Paróquia de Santa Rita, Padre Paulo Dionê, também falou rapidamente aos presentes, reforçando as palavras de Padre Geraldo e enfatizando a importância daqueles que atuam na Casa Legislativa Municipal. 

 

    

Sobre política e jardinagem (Rubem Alves)

De todas as vocações, a política é a mais nobre. Vocação, do latim "vocare", quer dizer "chamado". Vocação é um chamado interior de amor [...]. "Política" vem de "polis", cidade. A cidade era, para os gregos, um espaço seguro, ordenado e manso, onde os homens podiam se dedicar à busca da felicidade. O político seria aquele que cuidaria desse espaço. A vocação política, assim, estaria a serviço da felicidade dos os moradores da cidade.

Talvez por terem sido nômades no deserto, os hebreus não sonhavam com cidades; sonhavam com jardins. Quem mora no deserto sonha com oásis. Deus não criou uma cidade. Ele criou um jardim. Se perguntássemos a um profeta hebreu "o que é política?", ele nos responderia: "A arte da jardinagem aplicada às coisas públicas".

O político por vocação é um apaixonado pelo grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno jardim que ele poderia plantar para si mesmo. De que vale um pequeno jardim se a sua volta está o deserto? É preciso que o deserto inteiro se transforme em jardim.

[...] Um político por vocação é um poeta forte: ele tem o poder de transformar poemas sobre jardins em jardins de verdade. A vocação política é transformar sonhos em realidade. É uma vocação tão feliz que Platão sugeriu que os políticos não precisam possuir nada: bastar-lhes-ia o grande jardim para todos. Seria indigno que o jardineiro tivesse um espaço privilegiado, melhor e diferente do espaço ocupado por todos. [...].

Vocação é diferente de profissão. Na vocação a pessoa encontra a felicidade na própria ação. Na profissão o prazer se encontra no ganho que dela se deriva. [...]. Ele ama o dinheiro que recebe dela. [...] Todas as vocações podem ser transformadas em profissões. O jardineiro por vocação ama o jardim de todos. O jardineiro por profissão usa o jardim de todos para construir seu jardim privado, ainda que, para que isso aconteça, ao seu redor aumentem o deserto e o sofrimento. Assim é a política. São muitos os políticos profissionais. [..]. O que explica o desencanto total do povo, em relação à política. [...] 

 

Leia AQUI a coluna de Rubem Alves na íntegra.

Matéria revisada às 11h35