Pe. Geraldo Martins

A ponte que nos une

"O diálogo é o caminho de transformação. Só ele constrói pontes que nos unem, sem nos uniformizar."


A Campanha da Fraternidade que, pela quinta vez, é realizada de forma ecumênica, convoca-nos, neste ano, ao diálogo como caminho para superar polarizações e violências, muros que impedem a construção da paz e da unidade na diversidade. Não podemos ficar indiferentes a esse apelo que nasce do testemunho de Jesus que rompe as barreiras do preconceito, da discriminação e da intolerância para encontrar-se e libertar os que viviam na marginalidade, na exclusão, na invisibilidade.

Lembra-nos o texto base da CFE que “Jesus nunca orientou seus discípulos/as a criarem inimizades e perseguirem outras pessoas em seu nome. As palavras de Jesus sempre foram orientadas para que as pessoas assumissem compromisso em defesa da igualdade e do diálogo” (n. 9).

Segundo o papa Francisco, ao propor o tema do diálogo, a Campanha da Fraternidade “lembra que são os cristãos os primeiros a ter que dar exemplo, começando pela prática do diálogo ecumênico”. “Sentar-se a escutar o outro, caraterística de um encontro humano, é um paradigma de atitude receptiva, de quem supera o narcisismo e acolhe o outro, presta-lhe atenção, dá-lhe lugar no próprio círculo. Mas o mundo de hoje, na sua maioria, é um mundo surdo” (Fratelli Tutti, 48).

O próprio Jesus nos dá exemplo da escuta ao se juntar aos discípulos que voltam para Emaús, decepcionados, no domingo da ressurreição. O diálogo com Jesus abre seus olhos e, então, o reconhecem ressuscitado (Lc 24,13-35). Inspirado nesta passagem, o Texto-Base da Campanha nos faz enxergar a sociedade polarizada, dividida, profundamente desigual e injusta, na qual vivemos.

O diálogo é o caminho de transformação. Só ele constrói pontes que nos unem, sem nos uniformizar. Para tanto, é preciso que Deus nos livre dos vírus do pânico, do desânimo, do pessimismo, do isolamento interior, do individualismo, da comunicação vazia, da impotência e das noites sem fim, conforme reza o cardeal Tolentino Mendonça (TB, n. 56).