Publicado em: 30/03/2021 19:46:00
O Domingo de Ramos convida-nos a celebrar dois momentos da vida de Jesus que, aparentemente, se contrapõem. De um lado, sua entrada em Jerusalém como rei e messias. De outro, sua condenação à morte como um criminoso. No primeiro, como numa passeata, o povo é protagonista. No segundo, a elite dominante, composta pelos líderes religiosos e políticos. Em ambos os episódios Jesus nos revela, mais uma vez, quem Ele é e a que veio.
Na rua, misturado e identificado com o povo, Jesus mostra que veio para libertar da opressão os pobres e descartados pela sociedade. O grito que sai da boca do povo é o grito de sua libertação: – “Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito seja o reino que vem”. Pobre e humilde como o povo que o segue, Jesus não almeja poder - nem político, nem econômico, nem religioso. Servindo-se de um jumentinho, animal de carga dos pobres, denuncia os poderosos que fazem do povo seu ‘animal de carga’ à custa de quem se enriquecem. Qualquer semelhança hoje não é mera coincidência...
No Palácio do governador, diante do poder constituído, Jesus se revela o Filho de Deus. Falam por si seu silêncio, suas obras e seu testemunho. Conscientes de que não têm prova contra Jesus, seus inimigos incitam o povo a clamar contra Ele. Ontem como hoje, o poder de persuasão dos poderosos soa como coação e chantagem que, nem sempre, deixa ao povo o direito de decidir e agir com a liberdade de sua consciência.
O que nos ensinam estas duas cenas? Pelo menos duas lições: a grandeza que vem da pequenez e a força que nasce da fraqueza.
A Carta aos Filipenses relata que Jesus esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos seres humanos. Em sua baixeza, Ele mostrou sua grandeza. Aclamado rei e messias, Ele assume esta identidade da forma mais humilde que se poderia imaginar: humilhando-se e fazendo-se obediente até a morte e morte de cruz (cf. Fl 2,8).
Diante do poder dominante, que julga e condena de acordo com seus interesses, Jesus mostra aparente fraqueza. Qual servo sofredor, Ele ofereceu as costas a quem lhe batia, o rosto a quem lhe arrancava a barba e lhe cuspia (Is 50,6). Na cruz que lhe é imposta como castigo, revela sua força, vencendo-a pela ressurreição. Sua vitória, porém, não é reconhecida por quem o condena, mas por um soldado: “verdadeiramente este homem era filho de Deus” (Mc 15,39).
Convido os jovens a olharem para estas duas cenas e a se tornarem testemunhas do que veem. O rebaixado e fraco tornado grande e vitorioso! Nele é que vocês, queridos jovens, encontrarão a motivação para seu viver quando as contradições da vida lhes parecerem demasiado pesadas. Se o trouxerem sempre consigo, derrotas e fraquezas não os abaterão jamais. Quem Nele está, possui a força que leva à vitória, mesmo quando tudo se apresenta desfavorável. Ele nos ensina que nossa realização não está no poder, no prestígio, na riqueza, no prazer hedonista ou nos valores com que o mundo tenta nos seduzir, tirando-nos do caminho do Reino.
A vocês peço que testemunhem duas coisas: a força da fé e a defesa da vida.
A fé nasce do encontro com Jesus que não é uma ideia, mas uma pessoa concreta que viveu toda a experiência humana, menos o pecado. Lembrem-se de que, como vocês, Ele também foi jovem. Embora os evangelhos não narrem nada de sua juventude, podemos intuir que fez tudo o que é próprio de um jovem: em casa, ajudava os pais; na religião, frequentava o templo, a sinagoga e aprendia a Lei; na vida social, convivia com os amigos; no trabalho, ajudava seu pai na carpintaria. Foi assim que Ele se preparou para a missão. Por isso, identificou-se tão facilmente com os que mais sofriam e clamavam por vida.
Quanto mais vocês encontrarem esse Jesus humano, tanto mais se apaixonarão por Ele. Esse é o caminho para se tornarem seus discípulos: apaixonar-se por Ele. Muitos já estão nesse caminho. Outros estiveram nele e o abandonaram. Entraram por atalhos e se perderam. E você?
O compromisso de quem crê em Jesus é sempre com a vida, especialmente, a mais vulnerável. A fé nos dá a luz para ver onde ela é mais ameaçada, além das causas desta ameaça. Estas são diversas: políticas, econômicas, sociais, religiosas, culturais. Não vem de Jesus Cristo uma fé que aliena e impede de enxergar o sistema que produz pobreza, miséria, sofrimento, dor. A civilização do amor que vocês, jovens, são chamados a construir passa pela defesa intransigente da vida e pelo combate às desigualdades sociais. Isso implicará um discernimento crítico diante da realidade na qual vocês vivem. Não sejam massa de manobra da política, do poder econômico, da religião, de ninguém.
Fujam de uma fé que os conduz a um Jesus que não seja parceiro dos pobres e excluídos, dos lascados da vida. Testemunhem uma fé que os leve a assumir, em primeira pessoa, a luta pelos direitos humanos, pela dignidade da vida humana, pelo fim do racismo, da discriminação, do preconceito, da intolerância, do fundamentalismo.
Na defesa da vida, iluminada pela fé, não abram mão da justiça. Sejam intransigentes e denunciem quando violarem o direito dos pobres, dos indígenas, dos quilombolas, dos irmãos e irmãs LGBTQI+, das mulheres, das crianças e adolescentes, da juventude. Sem jamais recorrer a qualquer tipo de violência, reivindiquem com força o direito que vocês têm à educação de qualidade, à saúde, à cultura, ao lazer, à moradia digna, ao trabalho, à família.
Neste tempo da pandemia, exorto-os a serem protagonistas da vida. Estimulem seus amigos a cumprirem as normas de segurança contra a Covid-19. Preservem a própria vida e a de seus irmãos e irmãs. Para tanto, "levantem-se e testemunhem o que veem!".