Pe. Geraldo Martins

Não ao desencanto com a política

“O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons” (Martin Luther King).


Os municípios brasileiros já respiram eleição. A partir do dia 16 deste mês, começa a campanha eleitoral quando os candidatos e candidatas aos cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador, apresentam-se à população a fim de conquistar a confiança e o voto do eleitor. Trata-se de uma tarefa hercúlea diante de uma população, em sua grande maioria, cada vez mais desencantada com a política e com os políticos.

E não é sem razão. Lembra a CNBB que “a apatia, o desencanto e o desinteresse pela política, que vemos crescer dia a dia no meio da população brasileira, inclusive nos movimentos sociais, têm sua raiz mais profunda em práticas políticas que comprometem a busca do bem comum, privilegiando interesses particulares. Tais práticas ferem a política e a esperança dos cidadãos que parecem não mais acreditar na força transformadora e renovadora do voto” (2017).

O mais triste é constatar que esse desencanto pela política, além de não sensibilizar grande parte dos políticos de forma a fazê-los mudar de conduta, favorece, exatamente, a eles. Afinal, quanto menos interesse e participação no processo eleitoral, tanto mais fácil é passar a imagem de pessoa ilibada e comprometida com a ética e a democracia. A responsabilidade, portanto, da eleição de maus políticos deve ser assumida pelos que se omitem de participar ativamente da vida política do país.

Nesse contexto, nunca é demais lembrar Martin Luther King: “O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons”. É impressionante como muitos têm o dom de criticar a tudo e a todos, mas nunca participam efetivamente das campanhas eleitorais e se orgulham de se apresentar como apolíticos.  Isso é possível?

O voto é, sem dúvida, um dos meios mais poderosos de que dispomos para mudar a sociedade. Porém, se não exercemos esse dever com a consciência que ele requer, acabamos por corroborar as estruturas corrompidas pela falta de ética e descompromisso com a construção do bem comum. Fazemos, então, a antipolítica ao invés da Política melhor. O apelo, portanto, é: não ao desencanto com a política; sim à esperança de tempos melhores.   

 * Artigo publicado no jornal O Mensageiro - Agosto 2024